Capitão Ortense e o Hard Rock Rising: a hangover depois da vitória

Chegaram à final da Hard Rock Rising'2013 entre nove concorrentes. O protocolo pedia que fossem os últimos das três bandas a actuarem no pequeno palco do Hard Rock Café, em Lisboa, no passado dia 25 de Março. O facto parece ter funcionado a favor deles. Saíram vencedores da battle, que os colocou como adversários de Dark Waters, de S. Pedro do Sul, e Caelum's Edge, do Barreiro.

Já passava da meia-noite quando o jurí se mostrou pronto para anunciar o resultado da votação. Com uma diferença ténue em relação ao segundo classificado (Caelum's Edge), os Capitão Ortense fizeram jus ao nome. Em entrevista ao Off The Record, João Catarino, vocalista, confessou que nem queria acreditar no que ouviu: "Entre todo o nervosismo e tensão reunidos na hora decisiva, foi algo chocante ouvir da boca de João Pedro Pais o nome da nossa banda. Foi uma mistura de euforia com perplexidade".

Rui M. Leal  . facebook/hardrockcafelisboa
A disputa pela vitória contra o metal profundo de Dark Waters (banda liderada por Sérgio Lucas, vencedor da segunda edição do programa de talentos, Ídolos, em 2004), e do inaugural space rock - género definido pelos próprios músicos da Margem Sul - inspirado nas magnitudes de U2 ou de 30 Seconds to Mars, os Capitão Ortense sabiam onde estavam metidos. "Nunca pusemos de parte a hipótese de poder ganhar, mas a concorrência era forte, o jogo estava aberto e tudo podia acontecer", explicou João.

A decisão tomada pelo painel de jurados - Arte Sonora, Everything is New, João Pedro Pais, MTV Portugal e Rádio Comercial - valeu-lhes uma entrada directa para o Palco Heineken no próximo Optimus Alive. João chama-lhe "um sonho tornado realidade", e acrescenta que o facto de irem fazer parte do cartaz do festival é "a recompensa do trabalho e dedicação" da banda. O jovem de 20 anos, estudante de Direito, reconheceu ainda a importância das próximas mudanças: "Temos noção que este concurso alterou por completo o nosso percurso, cainda na incerteza do que irá acontecer daqui para a frente."

Apesar da qualidade do som pouco perfeita daquela sala emblemática, os Capitão Ortense beneficiaram da voz clara de João - mesmo concorrendo contra uns Caellum's Edge apetrechados de sintetizadores, sons adicionados ao live act a fazer lembrar ecos de estádios cheios e de uma plateia treinada para o final do mini-concerto, ou contra uns Dark Waters poderosíssimos e confiantes na postura quase animalesca de Lucas. Apresentaram-se com um rock popizado maistream, mas com pontas de inteligência muito criativas e com a certeza de que sabem mesmo bem mexer nas guitarras, que parecem tocar desde miúdos.

A média de idades não é uma dor de cabeça. O baterista chama-se Pedro Costa, tem 20 anos e é estudante de Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa. Ricardo Mendes, também com 20 anos, estuda Engenharia do Som no Instituto Superior Autónomo de Estudos Polítécnicos (IPA) e ocupa-se da guitarra ritmo. E Pedro Gonçalves é colega do Ricardo no IPA, mas é mais novo um ano e é quem manda no baixo.

Os quatro conheceram-se no Centro de Estudos de Fátima, tocaram juntos na escola e eis que resolveram formar a banda há cerca de dois anos e meio. O nome 'Capitão Ortense' "surgiu de uma conversa improvável entre dois amigos músicos que tentavam juntar nomes para bandas simplesmente por brincandeira". A brincadeira ficou séria e foi a junção estranha dos nomes que os fascinou. João diz que houve "vontade de permanecer com [a escolha] para ver se as pessoas aceitavam bem". "Até hoje já ouvi um bocado de tudo em relação ao nome, normalmente de espanto por não se perceber o seu significado aparente", contou ao Off The Record.

E, talvez por causa do à vontade entre eles, a preparação para o evento não fugiu muito da normalidade. João esclarece que fizeram ensaios períódicos como até então tinham realizado, mas agora de uma "maneira mais organizada e profissional". Afinal já andavam com o Hard Rock Rising debaixo de olho há algum tempo: "A ideia [de participação] surgiu já na edição anterior, na qual não conseguimos participar porque a banda estavam em alteração dos membros". No entanto, "o sentimento perdurou até este ano. Fizemos tudo para vingar a oportunidade", contou João.

E o facto de cantarem em português parece ter sido outro ponto a favor naquela noite, já que acabaram por se tornaram na primeira banda a vencer o concurso sem ter que recorrer a línguas estrangeiras. João é quem se encarrega da escrita das letras, as quais são posteriormente analisadas por todos. O objectivo é simples. É para que "soe como todos querem e para que faça sentido dentro dos nossos objectivos", afirmou.  Diz que o processo criativo é diferente de música para música e que tem, regra geral, uma "ideia primária" pensada por ele. 

Rui M. Leal  . facebook/hardrockcafelisboa
Não são estreantes nas actuações ao vivo. O ano passado estiveram no Festival do Avante e a memória só lhes traz boas recordações: "Foi dos momentos de banda mais felizes que tivemos antes da noite de segunda-feira. Foi uma oportunidade gratificante e única. Esperamos lá voltar um dia", recorda João. Ainda assim, o líder do grupo explica que as coisas eram diferentes até ao último ano:"O facto de sermos de longe dificultava a nossa visibilidade, mas desde que estamos todos a viver em Lisboa, o aparecimento começou a ser mais regular. É mais fácil chegar ao públlico que não nos conhece".

A questão da visibilidade vai também ganhar outros contornos. A vitória dos Capitão Ortense nesta competição coloca-os ainda numa órbita ainda maior.  Vão ser sujeitos a uma nova apreciação: podem ser escolhidos para figurar nas dez melhores bandas da plataforma internacional do formato, das quais será ainda escolhido o top três por parte de profissionais da indústria da música.  Se tudo lhes correr bem podem vir a actuar no festival anual Hard Rock Calling, que este ano acontecerá no Parque Olímpico Rainha Isabel, em Londres.

«Falsa Melancolia» é o tema com o qual se andam a apresentar. O título da música, directo e perceptível como eles, espelha aquilo que são.  Quando lhe perguntámos qual é o maior sonho da banda, o músico foi, ao mesmo tempo, prudente e emotivo: "Os sonhos vão sendo construídos à medida que vamos crescendo. Temos ambição de tocar em grandes palcos, mas nada se compara à ambição de fazer para sempre parte do grupo em que estamos, e que a relação que temos não se sinta nunca afectada". São bons miúdos, com as ideias a fervilhar e com muito pouco espaço para ficarem enclausuradas.

Em nome da banda, João definiu, por fim, a vontade que têm em serem uns verdadeiros artesãos do som: "Além de uma simples denominação de capacidades, o facto de reconhecerem a nossa humildade em querer trabalhar com música todos os dias é o melhor elogio que se pode ouvir".

 
 

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